25.5.06

O ter-te como filosofia da existência

A tragédia do homem nasce com as gramáticas para quem o verbo ser equivale ao verbo existir e tudo ao verbo estar. Aí, nada do que não é há. E no entanto, caminham a nosso lado os que foram e já não estão, fazem-nos companhia as ilusões do que ainda virá a estar, podendo existir mas ainda não é. Um dia, numa madrugada de agonia por este confinamento da existência ao que está, um homem, armado de ser até aos dentes, atacará à bomba toda a lógica, a tiro tudo quanto é gramática. Nesse dia profundamente libertador, as forças da ordem, as que garantem que mais não haja do que o que está, sairão para a rua. Uma carnificina feroz mutilará de vez o homem revoltado. Quando o sol raiar, já nada há para quem foi. Morto o mundo do ser, surgirá então, pegajoso e regulador, o mundo do ter e as suas servidões. Um homem, dos muito poucos que sobreviverão, encanter-se-à por uma mulher. Dir-lhe-à és minha, terão um filho e a isso chamarão amor.

22.5.06

Os números racionais

A propósito de Álvaro Ribeiro, a que a revista «Teoremas de Filosofia» dedica o seu número 12, Pedro Sinde escreve que «o português é, no seu melhor, de um realismo idealista ou de um idealismo realista, que o torna felizmente incapaz da abstracção, naquele sentido ede uma reflexão separada da vida, de construção de castelos no ar». Anoto o advérbio «felizmente». Um povo que vive o que vê, e com o concreto se basta, é seguramente um povo feliz. Rural, os pés assentes na terra, sabe contar pelos dedos, basta-lhe a aritmética, dispensa a álgebra e a infelicidade que com ela chega sob a forma de números racionais.

12.5.06

Obras portuguesas on line

A Biblioteca Nacional informa: «a língua portuguesa está actualmente entre as 9 principais línguas do Projecto Gutenberg, uma vez que tem de mais de 50 obras disponíveis de forma livre. Entre as actuais 51 obras encontramos nomes de autores clássicos como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Cesário Verde, Júlio Dinis, Ramalho Ortigão, entre muitos outros. No âmbito do projecto Distributed Proofreaders (DP), voluntários revêem obras online página a página, comparando imagens digitalizadas com o resultado em OCR. Após várias rondas de revisão, os livros digitais resultantes podem ser descarregados gratuitamente no sítio do Projecto Gutenberg (PG). A Biblioteca Nacional Digital contribui para este projecto com imagens de obras portuguesas, sendo responsável por 33 das referidas 51 obras. Para mais informações, consulte a página http://pagina-a-pagina.blogspot.com ou envie um mail para rfarinha@bn.pt.». Nós, os portugueses leitores, agradecemos. Obrigado Biblioteca.

1.5.06

Para pensar depois

«Ser português é ser europeu sem a má-criação da nacionalidade», escreveu um dos vários que eram o Fernando Pessoa. Não sei o que pense, hoje que não quero pensar. Rabisco aqui, como se num pedaço de papel, antes que esqueça e depois me não lembre o que tinha deixado para pensar depois.