15.5.12

Escrever para longe

Mantenho, esparso, este blog que dedico ao meu interesse pela "filosofia portuguesa", o território especifico que tem conhecido essa denominação, não a filosofia que se faz em Portugal ou por portugueses. É uma sorte de recusa do racionalismo e seus monstros, do cartesianismo e suas ilusões. Chamei-lhe Geometria do Abismo, que é uma frase do Livro do Desassossego. De Geometria filosófica se trata, desenhada com um pequeno ramo de cerejeira na areia da praia e por isso de recusa da Aritmética e seu mundo contável.
Hoje li esta carta do Álvaro Ribeiro para o António Telmo, desesperado ao saber que ele interrompera a sua escrita. E informa: «Nesta Lisboa dos cafés vão-se desmoronando as tertúlias, em consequência das invejas e das intrigas. Há duas semanas que não vejo o António Quadros. As conversas habituais causam desânimo. O que me vale, acredite, é o vício de escrever para longe…». Foi em 30 de Outubro de 1958 que isto foi dito. [o texto integral está aqui]. Podia ser hoje, já sobre os escombros do desmoronamento total.
Leio e uma angústia mansa nascida de um mundo em falta apodera-se como uma náusea de um prolongado jejum.Tenho de voltar ao estudo, organizar os livros, entrar pelas leituras a dentro, como quem passeia depois de jantar, refastelando o corpo, ou antes de o dia lhe amanhecer a Alma. 
Uma pessoa é sempre mais do que aquilo que aparentemente está, porque há o limbo entre o desejo e o sonho, horizonte de viagem.