13.5.12

A abnegação da fé

Esquecem muitos que a ideia de que Maria é a Padroeira de Portugal resultou da política, de acto de Dom João IV, em 1654,não de nenhum acto que da religião derive.
Esquecem outros que o conceito da imaculada concepção por Maria da pessoa de Cristo resulta de um dogma imposto pelo Vaticano, a 8 de Dezembro de 1854, não de uma noção que a fé necessariamente acompanhe. Cito da Bula Pontifícia: «Em honra da santa e indivisa Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa, declaramos, pronunciamos e definimos a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus e, portanto, deve ser sólida e constantemente crida por todos os fiéis.»
Tomás de Aquino, dominicano, o Doctor Angelicus da Igreja, entre o negá-lo e o pô-lo em dúvida definiu sobre essa pureza original de Maria o seu pensamento, ele que é o um dos expoentes máximos da Teologia cristã: poupada ao pecado original, não mãe sem acto criador provindo de homem, mãe de filho amputado de amor físico, essência, afinal, do Amor total.
Esquecem quase todos que o culto mariano é lei para a Igreja, definida desde primeiro Código de Direito Canónico, de 1917 e hoje no cânone 1816 quando reza: «Para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração especial e filial dos fiéis a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, a quem Cristo constituiu Mãe de todos os homens, bem como promove o verdadeiro e autêntico culto dos outros Santos, por cujo exemplo os fiéis se edificam e pela intercessão dos quais são sustentados.»
O que não se esquece é que na religiosidade popular portuguesa, a Virgem Maria, é objecto de um carinho especial: por ser Mãe em terra órfã, talvez, mas também por ser a a medianeira e a "correntedora", intercedendo junto do Céu e estabelecendo a corrente para que, na hora da Juízo, o Homem se salve do Inferno.
No comércio das almas ei-la, pois «advogada nossa».