Uma viagem no terreno começa pela que outros fizeram: o roteiro dos lugares, o caminho da cultura, as veredas dos símbolos.
Da Galiza mágica a descobrir a maravilha. Partida, amanhã.
A Filosofia Portuguesa, o pensar em Portugal
Uma viagem no terreno começa pela que outros fizeram: o roteiro dos lugares, o caminho da cultura, as veredas dos símbolos.
Da Galiza mágica a descobrir a maravilha. Partida, amanhã.
Generosa, discreta, entregando-se aos outros, como o tem feito com esta notável obra, Mafalda Ferro foi a amável anfitriã,
A sessão abriu com a leitura de um texto de Ana Maria Moog e um outro de Marília Teles da Silva e um depoimento videogravado de Guilherme de Oliveira Martins.
Moderado pro Renato Epifânio, o evento contou com intervenções Joaquim Domingues, António Cândido Franco, Pedro Martins, José Almeida e Joaquim Pinto da Silva.
O teor das intervenções e do, por vezes animado, debate, foi gravado e será editado pela Nova Águia.
Na conversa informal que se seguiu, em liberdade amiga de sentir, surgiu o inevitável tema: o que ficará para as gerações futuras e com essas gerações? Daí para se passar ao crucial tema do ensino e da formação cultural foi um passo.
Meteorologicamente estavam 42º na estrada, a antevisão do Inferno. Que importa isso, afinal, quando se procuram as estrelas no Céu?
Para além disso, o título, na parte em que refere "contos" não tem correspondência com o que são crónicas e esboços teatrais que nele também se compilam e naquilo em que convoca o vocábulo "secreto" tem fundamento na vertente esotérica e cabalísticas do pensamento filosófico do seu autor mas não confere com alguns dos textos, em que, salvo ignorância minha ou desatenção, a interpretação não tem de ser decifrada.
Trata-se, sim, do tema que dá mote a um dos capítulos do livro, o inicial, onde ficam treze contos, a que se juntam [páginas 151 e seguintes] outros contos e escritos afins.
Posto isto, a sua leitura tem proporcionado bons momentos e, sobretudo, intervalos de reflexão.
Tenho lido de modo errático, um pouco ao sabor do que os títulos prometem e do que é a disposição emocional do momento. Falta-me o teatro, os esboços de peças "A Goga" e "A Venda dos Painéis", este último, como refere Miguel Real na sua apresentação ao livro «texto duplamente iniciado e sempre inconcluso».
António Telmo criou a personagem Tomé Natanael, anagrama do seu próprio nome e deu-lhe tal verosimilhança que se tornou necessário explicar que o antiquário de Estremoz, que ele figurava, não existia salvo na sua escrita.
E foi ele que configurou um dos seus livros, "O Bateleur", o primeiro arcano das cartas do Tarot de Marselha, o representativo da letra Aleph, símbolo da magia.
Para o conhecimento do pensamento de António Telmo, naquilo em que resultou do primeiro impulso de Álvaro Ribeiro - o dilecto discípulo de Leonardo Coimbra - e de José Marinho - o leitor terá de fazer o caminho complexo dos seus livros, como, por exemplo, a "História Secreta de Portugal" ou, pela linguística a "Gramática Secreta da Língua Portuguesa", e não ficar por aí.
O esforço de lhe restituir visibilidade, em que se distingue pelo amoroso empenho, Pedro Martins e quantos animam o projecto tenta vencer o anátema que António Cândido Franco havia constatado em 1999 em artigo publicado no JL: «Hoje com mais de setenta, o autor passa por ser um caprichoso esotérico, quando não um perdulário que desperdiça em charadas e horóscopos a inteligência que Deus generosamente lhe confiou [...]» [para mais, ver aqui].
Tive, em tempo, quando fui editor, a oportunidade de publicar o seu epistolário com António Quadros, amplamente comentado e guia também, por isso, útil para conhecimento da parte em que a Filosofia Portuguesa os irmana.
Vou prosseguir com os contos. Acompanho Pedro Sinde, no que publicou nos "Teoremas de Filosofia", esses doze fascículos que consegui reunir: «O conto é, tantas vezes, a melhor forma de transmitir doutrina, porque aí os conceitos são obrigados a sair do mundo noético do espírito quase puro para incarnarem, como o Verbo exemplar, e ganharem vida terrena».
Datado de 1984, está aqui um programa da RTP [rádio] sobre Leonardo Coimbra, da autoria de Adriana Veríssimo Serrão.
Como se nota pela datas, este espaço tem estado completamente ao abandono e com isso uma angústia existencial que só não é maior porque o nosso psiquismo defende-nos da culpa inventando razões exculpatórias, uma delas a incapacidade de achar tempo para o que se quer.
Talvez por isso uns dias de brevíssimas férias, e ter achado nelas uma inesperada biblioteca, hajam propiciado o encontro com um pequeno livro e nele uma frase que Jorge Tavares Rodrigues levou a um encontro comemorativo do octagésimo aniversário do nascimento do Professor Delfim Santos, tirada de uma cigarreira de prata que se conservará no seu Museu: «Pode-se aquilo que se quer ... quando se sabe querer aquilo que se pode».
Surgiu aqui nesta tarde de sexta feira a iniciação da sua obra, que a Fundação Gulbenkian editou, e de que guardo os tomos, sem os ter alguma vez aberto, recentemente chegados de viagem, conjuntamente com a biblioteca de filosofia portuguesa que mão amiga guardou durante largos meses por terras de Basto, à espera que eu pudesse voltar a receber.
Tudo isto, trazido pela mão de itinerários, parecerá insólito, mas não é pretexto, antes cruzamento de circunstâncias que, unidas por uma substância compreensiva, ganham sentido e são, por isso, verdades ocultas.
A biblioteca onde me cruzei com o opúsculo de que aqui deixo a capa, esteve em Paris, a da Fundação, e jaz hoje na estância onde tento descansar, ela à espera de leitores, o meu coração angustiado de que não a achem predadores. A biblioteca a que chamo minha apenas pela razão menor de ter sido eu a comprar os livros, essa seguiu o Herodes para Pilatos as vicissitudes de um certo momento da minha vida e regressou há dias a casa, à espera de ser reorganizada e completada nas formidáveis lacunas que seguramente tem.
Enfim, irei visitar o Museu Delfiniano, assim regresse. Foi um filósofo sem cátedra na filosofia, que a Pedagogia acolheu, sem que a Filosofia acolheu.
[este texto esteve escrito e por publicar durante uns meses; ao aperceber-me disso, trouxe-o aqui]