20.10.23

Sampaio Bruno: a homenagem em "A Águia", um mês após a sua morte

 


Com quanto júbilo consegui encontrar, em amável alfarrabista, alguns números dispersos da revista "Águia", e entre eles, por sua gentil oferta, um número especial, editado em Dezembro de 1915, dedicado a José Pereira de Sampaio (Bruno), falecido no mês antecedente.

Entre os artigos, logo o inaugural, escrito, em estilo intimista, por Teófilo Braga, a centrar-se na colaboração do autor de "A Ideia de Deus" na edição portuguesa da História de Portugal de Henri Schaeffer. Trata-se da "História de Portugal desde a fundação da monarquia até à revolução de 1820. Vertida fiel, integral e directamente por F. de Assis Lopes. Continuada, sob o mesmo plano, até aos nossos dias, por J. Pereira de Sampaio Bruno", que está editada pela Imprensa Nacional  [ver aqui].

Para além do arroubo de Leonardo Coimbra - que em "Bruno, Filósofo" vê o gládio do ataque ao positivismo e aos seus maus frutos, «o despotismo» -  e de um invulgar apontamento, escrito pelo musicólogo portuense Bernardo Valentim Moreira de Sá [1853-1924, ver aqui], sobre um folheto de 20 páginas, impresso particularmente, em que o pensador homenageado, em 1903, expusera uma teoria matemática dos intervalos, fundada no pensamento de Leibnitz e de Pitágoras sobre a interrelação da música com a aritmética, porventura o mais consolidado é o artigo analítico de Teixeira Rego [1881-1934] sobre "A Unidade de Pensamento em Sampaio (Bruno)", a surpreendê-lo para além da erudição e com maior profundidade do que o seu recato tímido permitia intuir. 

Texto de notável contenção, a considerar o perigo de resumir «em demasia simplista, a obra de um metafísico», quando há em Bruno «místico», mas a deixar, em comovida lembrança, uma síntese que entronca esse problema tão contemporâneo: «como conciliar a existência de Deus com o mal que há no mundo»?