24.3.12

A noite cega

Haverá uma filosofia portuguesa, no sentido próprio do termo, em que a etimologia, que nasceu de sermos tema e do nosso modo, resista à incaracterística contemporaneidade e seu sem sentido? Não estarão perdidos, no desorientado cruzamento, os marcos miliários da caminhada histórica desta Nação em interregno? Encontrar-se-ão, na penumbra da indiferença, os arcanos da Pátria, de entre os humilhantes sobejos, desbotados, de memórias desusadas? 
Que Quinto Império terá restado quando estamos aquém do espírito de que floresceu o Condado Portucalense? Que viagens de argonautas, se regressou deserta a Nau da Índia e em festim se foram as especiarias e cabotamos hoje na jangada do naufrágio, remando em noite cega?
Hipotecados até à raiz do pensamento, só no exílio mental se encontrará o alvorecer do que é nosso, sendo a essência do nosso ser.
Haverá um Portugal que filosofe para que resista a sua antiguidade?

P. S. O quadro é de Margarida Cepêda.