Confessa-a no terceiro volume da segunda série da sua Conta Corrente, quando, enfim, a França o galardoou e o pesar da idade o torna prisioneiro da ânsia de prémios, recebido o da Europália, frustrado o Nobel, a ascendência que a França teve no seu pensamento.
Pressente-se isso no pendor que a sua obra de ficção teve para a tragédia absurda da condição humana, e por essa via, a absorção do que se convencionou designar de existencialismo, mais sartreano no seu caso do que camusiano.
Só que não consegue desligar-se do húmus pátrio e com isso o cosmopolitismo dói-lhe, enquanto blague e pose, como uma superficialidade de salão e alerta-o como arquitectura concentracionária e enquanto segregação racionalista rasgando tudo aquilo de que o seu ser está embebido, a sensação nostálgica colhida na neblina das serranias da sua Guarda, a indiferença contemplativa ante a aridez sufocante de Évora cidade, a rotina liceal conformada do seu Camões, a vigília permanente, sísifica da sua escrita.
Nisso, e cito tudo isto de cor por preguiça de ir buscar livros que cite, Vergílio Ferreira é um filósofo da portugalidade, porque tem da Pátria a terra no pó da sua existência discreta, e a ausência de abstracções como personagens ou de generalizações como ideias. Tudo nele é o que é e assim é que é, numa helicoidal de angústia e assim sucessivamente.