30.12.11

Manuel Antunes, S. J.

Padre Jesuíta a ensinar numa Universidade laica e republicana, a de Letras de Lisboa, soube-se impor pela sua personalidade generosa, humilde e tolerante, pela sabedoria que oferecia como pedagogia, pela contenção da expressão. Amigo íntimo de Lindley Cintra, de Jorge de Sena, de Vitorino Nemésio, tão diferentes e tão idênticos na sua intrínseca humanidade.
Tenho dele a obra completa, editada pela Fundação Gulbenkian, que adquiri com a ânsia de a ler na íntegra um dia, e o número comemorativo da Brotéria de que foi director. Tivesse tempo começava hoje.
Faltava-me conhecê-lo. Sucedeu hoje, através do livro que José Eduardo Franco coordenou reunindo testemunhos de quantos o conheceram.
Talvez o título Um Pedagogo da Democracia seja redutor, porque a vastidão da sua pessoa sobeja amplamente a essa vertente para a qual a política é convocada.
Tenho vindo a ler os depoimentos que consubstanciam a obra sem continuidade, como faço frequentemente, ao sabor do acaso. Terminei agora o de Manuel Ferreira Patrício, que foi Reitor da Universidade de Évora. Doutorou-se com uma tese sobre Leonardo Coimbra. Manuel Antunes orientou-o até mais não poder. 
Amigo e vizinho de António Telmo, pela mão deste conheceu Álvaro Ribeiro. Iniciou-se assim nas filosofias nacionais. O tema de investigação surgiu-lhe como experiência de vida. Num dos encontros para a preparação do trabalho, Manuel Antunes sugeriu-lhe que «a dimensão do Amor era fundamental na obra e no pensamento de Leonardo», o autor de A Alegria, A Dor e a Graça. Porque o mistério do ser só se entende com o coração, em intimidade com o existente, abarcando-o como coisa nossa. Torna-se o amador na coisa amada, a unidade do sinto logo existe, existo enquanto sinto.