9.8.11

O mundo e os seus intérpretes

A ideia recolhia-a numa entrevista que a Maria Filomena Molder deu à revista Ler. A conversa não saiu fluente e a própria pergunta-se quanto a terem sido, entrevistadora e entrevistada, demasiado abstractas. Há, porém, um momento em que um princípio é ilustrado por um exemplo. E embora a exemplificação não seja a mais digna forma de enunciar uma ideia ou de a demonstrar no caso a sua força ilustrativa ganha corpo.
Trata-se das declarações que são, logo que proferidas, comentadas imediatamente pelo entrevistador, o que é o caso das afirmações oriundas do território da política. O efeito do fenómeno é a anulação da distância e a geração da instantaneidade do efeito. O destinatário do dito nunca a chega a ter intervalo para meditar no ouvido e para formar uma opinião sobre o escutado pois logo o comentador surge a apontar como um sinaleiro o sentido único da interpretação e o desvalor de interpretações em contrário.
Claro que como há, e a tanto alude também a entrevistada, "comentadores de comentadores" o mundo resolve-se entre os seus intérpretes.