15.12.10

Rumando ao mar

Talvez uma mística, encontrada nos labirintos do ser, como um gorgolejar espumoso de lava que explodisse, incontida, a irradiante luz, estrelar, a reflectir-se em meteoritos alucinantes, ou decifrada no murmúrio de uma prece, como símbolo a símbolo, na lápida de uma recolhida capela, que a corografia sagrada explicasse, se encontrasse a chave da Tradição e a carta de marear rumo ao Futuro seguindo para Nascente.
Talvez num espinhoso refúgio, no matagal esconso onde nenhuma patrulha da Ordem chegue e o fogo do Império não arda nem nenhuma febre de domínio ou desejo de território.
Talvez na individualidade dos poucos portugueses sem sonhos de Índia ou pesadelos de Europa, aventureiros naquela e nesta mendigos e na sua própria casa hóspedes dos seus.
Talvez nem aí ou em lugar algum e apenas no momento topográfico impossível por ser o da não intersecção do tempo e do espaço, surja o Vazio e com ele o Absoluto e assim a possibilidade de reinício, esperança do tudo o que há e fé no que poderia ter havido.
No final principias, tornado outro. Moribundo o Estado, agonizante a Nação, a alma de Pátria renova-se com o nascer da primeira caravela. Rumando ao mar aumentámos o Mundo. Na praia da memória, fiam-se as redes da História, viúvas dos que não voltaram, saudosas dos que poderiam tê-las levado, mães prováveis de ventres irrealizados.