7.9.10

Uma janela para o mar

Podia ser em dia certo, como fazem os que prometem mudar no dia um de Janeiro de cada ano, ou quando comemoram o dia do aniversário. Podia ser porque reabrisse qualquer coisa como por exemplo os tribunais e a época dos saldos, ou por ser dia da Feira do Relógio ou Temporada na Gulbenkian.
A lógica comemorativa pressupõe uma dupla crença: primeiro na cronologia que é, afinal, uma forma de se quantificar a vida; depois na mudança que é um meio de desconfiar da retrogressão.
Desde que se inventaram os números o Homem passou a ser um infeliz. Mesmo quando os árabes trouxeram o zero que os romanos desconheciam. Aí adicionando nada tudo se torna maior, expressão surreal do paradoxo da nulidade avantajada. Com a Álgebra veio a fantasia de que a partir de incógnitas se aplicam as regras universais a casos particulares em que cada um se sente semelhante a todos os demais. Enfim tudo termina na lógica da equação. Crente nas virtudes do equilíbrio, o homem, poeira no cosmos, nem pensa que cada ponto é equidistante ao seu começo e ao seu fim, porque o tempo é circular.
Quase às duas da madrugada do dia 7 de Setembro, dia ocasional num calendário incerto, decidi voltar aqui. Como um viajante nocturno a quem lhe apetecesse ver o mar.