A ideia do livro é ser uma reportagem, porque os autores foram admitidos no seio da Ordem da Cartuxa, franqueando portões até aí quase inexpugnáveis e vendo quebrar em seu benefíco a regra do silêncio e da clausura. Está escrito como quem escrevesse uma novela policial, em busca de um segredo que vai sendo desvendado ao longo das páginas do álbum. Há algo de O Nome da Rosa, talvez porque o tema o propicia.
Há momentos em que o o leitor supreende-se: quando descobre que nos primitivos tempos os frades que são contemplativos eram servidos por escravos hoje por irmãos que fazem, pela glória de Deus, o trabalho braçal; quando, sem ver citar origem, lhe dizem os autores que por ali se defende a pena de morte e que a Igreja não poíbe a pena de morte antes a aconselha.
Talvez para quem sinta um apelo à transcendência, o livro, escrito por Nacho Doce e por Paulo Moura, vocacione, para quem exija rigor à alma o livro facilite um pouco.
São humanos, claro, os retratados, na segunda recta da vida, e por isso a imperfeição pagã se projecte ainda e suas tentações meridianas e o livro tenta retratá-las mais ao mistério litúrgico daquela comunidade de votos de obediência.
Li-o parte desta tarde e disseram-me há momentos que poderia guardá-lo como meu. Isso permitir-me-á relê-lo, sublinhá-lo estudá-lo. Implantada em Portugal em 1587, a Cartuxa está em Évora. Renasceu ali.
Os monges falam a Deus sobre os homens, em oração, não falam aos homens sobre Deus. Fosse assim eram pregadores, convictos que a palavra traria a fé. Fé que é uma questão de vontade não de sentimento. A mística nasce da contenção que interioriza não do êxtase que implode do ser a alma.