A história não é minha. Eram dois amigos, vindos da pobreza com o sonho de ver o mar. Um deles conseguiu-o. Arranjou trabalho na orla marítima. O outro ficou na longínqua santa terrinha. Ao apelo do primeiro, moveu o céu e a terra, juntou migalhas e comprou a viagem. Viu-o então, o mar aquela imensidão de água que se adivinha para lá do próprio horizonte. Silencioso, absorto num pesado pensamento, perguntou: «com tanta água de tanta chuva, de tanto rio, com esta água toda deste mar, como é que não somos engolidos?».
Suspenso, hesitante, remoendo quanto ao que dizer, o amigo retorquiu-lhe, enfim, a resposta que resume o modo como, afinal, na vida se enfrenta o complexo através do simples: «bom, para já, para já, há as esponjas, não é?...»