Foi no táxi, porque foi no táxi que tive dez minutos de tempo, o livro era pequeno, cabia num cantinho da pasta e o capítulo menor ainda, legível na duração da corrida. Era o Borges, o Jorge Luís, com quem fiz as pazes e que leio agora, descobrindo-o - eu analfabeto confesso, arrependido da incultura, agora na meia-idade, que é a idade do saber - filósofo profundo, escritor sensível, irónico observador. Numa breve reflexão sobre o tempo circular, lança a ideia delirante de um conto, que talvez nem tenha chegado sequer a escrever, de um teólogo que persegue o herético, denuncia-o e fá-lo queimar nas fogueiras inquisitoriais para descobrir, num espanto tardio e já inútil, que para Deus omnisciente, Nosso Senhor, o herege e ele eram, afinal, uma única e só pessoa. É assim que se compreende o sublime da vida: cada coisa precede-se a si própria, mas só no infinito do eterno o múltiplo se funde no um, para se expandir no vário, renascendo no exacto momento de morrer.
Francisco Soares Toscano. A Sibila Cumeana em Portugal. Os "Parallelos de
principes, e varões illustres antigos, a que muitos da nossa naçam
portuguesa se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos."
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Em 1623 era dado à luz em Évora na oficina tipográfica de Manuel de
Carvalho uma obra de grande erudição, boa psicologia e sagaz
comparativismo. Do seu ...
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