16.8.05

O homem unidimensional

Houve um momento em que o homem sentiu a necessidade de uma geometria dos espaços curvos. Tinha compreendido os limites de um mundo projectado em superfícies planas, tal como os pintores medievais o pintavam e nele as esquálidas Virgens, em telas a uma só dimensão. Mas não era só esta exigência intelectual de um humano ansioso por desenhar o mundo tal como viam os seus olhos. O anseio pelas formas redondas é a ânsia pelo feminino, as saudades eternas do útero materno onde cada um nasceu; é o medo da linearidade do mundo exterior; a repugnância pelo que é unidemensional e sem volume. Num mundo desses, é a curva e não a recta a mais curta distância entre dois pontos. Leva-se mais tempo na viagem, mas vai-se mais feliz à janela do veículo que a permite. Se o geómetra da circunferência acenasse ao geómetra da esfera, no cais da estação onde este nem sequer se apeasse, diria, melancólico de monotonia: posso estar redondamente enganado, mas aquele, sim, é feliz!