14.8.20

Delfim Santos: encontro em viagem

 

Como se nota pela datas, este espaço tem estado completamente ao abandono e com isso uma angústia existencial que só não é maior porque o nosso psiquismo defende-nos da culpa inventando razões exculpatórias, uma delas a incapacidade de achar tempo para o que se quer.

Talvez por isso uns dias de brevíssimas férias, e ter achado nelas uma inesperada biblioteca, hajam propiciado o encontro com um pequeno livro e nele uma frase que Jorge Tavares Rodrigues levou a um encontro comemorativo do octagésimo aniversário do nascimento do Professor Delfim Santos, tirada de uma cigarreira de prata que se conservará no seu Museu: «Pode-se aquilo que se quer ... quando se sabe querer aquilo que se pode».

Surgiu aqui nesta tarde de sexta feira a iniciação da sua obra, que a Fundação Gulbenkian editou, e de que guardo os tomos, sem os ter alguma vez aberto, recentemente chegados de viagem, conjuntamente com a biblioteca de filosofia portuguesa que mão amiga guardou durante largos meses por terras de Basto, à espera que eu pudesse voltar a receber.

Tudo isto, trazido pela mão de itinerários, parecerá insólito, mas não é pretexto, antes cruzamento de circunstâncias que, unidas por uma substância compreensiva, ganham sentido e são, por isso, verdades ocultas.

A biblioteca onde me cruzei com o opúsculo de que aqui deixo a capa, esteve em Paris, a da Fundação, e jaz hoje na estância onde tento descansar, ela à espera de leitores, o meu coração angustiado de que não a achem predadores. A biblioteca a que chamo minha apenas pela razão menor de ter sido eu a comprar os livros, essa seguiu o Herodes para Pilatos as vicissitudes de um certo momento da minha vida e regressou há dias a casa, à espera de ser reorganizada e completada nas formidáveis lacunas que seguramente tem.

Enfim, irei visitar o Museu Delfiniano, assim regresse. Foi um filósofo sem cátedra na filosofia, que a Pedagogia acolheu, sem que a Filosofia acolheu.

[este texto esteve escrito e por publicar durante uns meses; ao aperceber-me disso, trouxe-o aqui]