Concebeu-o como uma biografia imaginária, uma «memória dos outros», escrita por um autor fictício em que se descobre a sua pessoa, a inquietação permanente do seu ser. Atribuiu ao livro toda a possível verosimilhança, de tal modo que o leitor num primeiro instante se interroga se Luiz Cotter, suposto biografado enquanto autor do Esplendor e Decadência da Casa de Áustria, teria de facto existido. Eis o magnífico Sob a Cinza do Tédio, o «romance de uma consciência».
Decidi-me a lê-lo hoje, num intervalo que a mim ofereci, cansado de há que tempos nada ler de livre escolha.
E vim aqui precisamente ao chegar a página 28, passados tantos momentos dignos de serem aqui citados, para trazer aquele instante em que o imaginário personagem atinge a percepção da «absoluta impossibilidade de se formularem leis históricas. A História estudava sucessões e não repetições, era uma ciência do particular e não do geral, procurava o mais típico, o mais individualizadamente dramático da vida colectiva».
Li e revi-me precisamente na profundidade do que dali decorre e quanto se fica isolado ao pensar assim, que «a História não carece do universal, com ser uma ciência do particular». Todo um exército de doutrinadores e censores se nos opõem, armados até aos dentes com as armas da ideologia e da História fazendo a legitimação das suas doutrinas.