20.8.08

O segredo

Ana de Castro Osório, que recusou casar com Camilo Pessanha, editar-lhe-ia, em 1920 a Clepsydra. Amor irrealizado, tinham-se unido pela fraternidade do sentimento, iniciados que já estavam na fraternidade universal da filiação maçónica, antiga e aceite, em que haviam encontrado a via oculta, a palavra sagrada, a cadeia da união.
Opiómano, emigrado para uma terra de exílio, Pessanha sofreria da mesma doença que Wenceslau de Moraes, o viver como um sonâmbulo num sonho alheio, numa pátria estrangeira.
Danilo Barreiros descrevê-lo-ia como «o morto-vivo», os chineses de Macau chamavam-lhe «o homem da meia vida».
No seu mais simbólico verso, o Branco e Vermelho, fez a viagem final, alucinatória, pelo território da luz. O poema inaugura-se com: «A dor, forte e imprevista/ Ferindo-me, imprevista/ De branca e de imprevista/ Foi um deslumbramento/Que me endoidou a vista/Fez-me perder a vista/ Fez-me fugir a vista/ Num doce esvaimento».
É a fenomenologia de um êxtase, a linguagem dos místicos, o dizer indizível, o segredo. Disse-o António Quadros, na Páscoa de 1988.