24.4.06

Uma certeza aguda

Há muito tempo que eu não vinha aqui. Comecei este «blog» por achar que na geometria encontraria uma forma não geométrica de me exprimir. Depois dediquei-o à filosofia portuguesa. Com o avolumar daquilo a que me obriga o meu emprego, que eu sou mal empregado, patrão de mim mesmo e ao serviço dos outros, passam-se dias em que nem um pensamento sequer, quanto mais uma filosofia. Esta manhã um sentimento de não poder definhar mais a pontos de estar como estou, acordou comigo, no mesmo sofá. Vim aqui deixar esta nota. Escreveu-a o Reinaldo Ferreira, esse mesmo, o repóter. Li-a como se minha fosse ou de mim falasse: «Tome-se um homem, feito de nada, como nós, e em tamanho natural. Embeba-se a carne, lentamente, duma certeza aguda, irracional, intensa como o ódio ou como a fome. Depois, perto do fim, agite-se um pendão e toque-se um clarim. Serve-se morto». Di-lo, comovidamente, o Mário Viegas. Ouço-o, raivosamente, eu, que aqui o cito.

16.4.06

A sagesse caprina

Permita-me o incomunidades a citação: «Não se sabe o que fazem, porém mexem-se. Alinham os bodes sem formatura no mais castanho-vivaz dos carreiros entre-verdes. A sagesse caprina domina as presenças ignorantes, sua quietude altaneira oprime os compassados, os que inverteram o grito e são agora profissionais, batem, por exemplo, no burro sempre que o social os aliena». Notável frase, notável blog.

12.4.06

O hino à claridade

Por bem fazer, mal haver. Trata-se de Rosa Araújo, recordado aqui, pela voz da Villaret, tal como o lembrei, revoltado, também aqui. Leia-se mais, por exemplo aqui. É um dos muitos portugueses de que Portugal se esqueceu.

7.4.06

A esquisita revelação

Escrevi no dia 7 de Junho do ano passado, num blog que morreu chamado «O Mundo em Gavetas»: «Talvez eu consiga encontrar apenas de noite, escondido do resto e albergado dos outros um espaço e um momento, um instante singelo na complexidade do mundo plural que me aflige: poderia ser esta casa na duna, ou talvez seja uma criatura. Oculto como é esse mundo, o revelá-lo destruir-lhe-ia o encanto, quero dizer, o encantamento». Um destes dias comemoro esta frase, reparando que me esqueci dela, completamente.

2.4.06

Portugal uno e plural

O controverso Orlando Vitorino arquivou num livro a que chamou «Exaltação da Filosofia Derrotada» o que chamou «Uma Constituição para Portugal». Não vem agora ao caso falar disso, só lembrar, pelo muito que nele se diz, o que é o segundo princípio dessa sua proposta de Lei Fundamental: «Portugal é uma Nação, uma Pátria, uma República e um Estado». Digo isto e disto me lembro pois que, olhando para o que se passa, Portugal é às vezes, apenas algumas, outras vezes, uma só, destas muitas coisas de que deveria todas afinal, numa só e única coisa.

1.4.06

Não separe o homem

Istambul é a única cidade do mundo que se situa em dois continentes. Isso que mostra que a terra separa aquilo que o céu uniu: um só mundo, um só espírito com muitos deuses.