31.12.05

O génio e a Natureza

Em 1963 a BBC entrevistou William Seward Burroughs [1914-1997]. Chamou à conversa «a álgebra da necessidade». Nela o escritor mostra como a escrita cria alterações na consciência de si, como autor, e dos outros, como seus leitores. A alucinação em si pode ser induzida, o génio, porém, esse é uma dádiva da Natureza.

29.12.05

A lei do «stress»

Li aqui que «o capital fomenta uma insegurança que faz com as que as pessoas se lhe submetam». Esta racionalização do «stress» explica muita coisa, apesar de criar a insegurança complementar sobre a sua própria validade. Talvez não seja uma regra universalmente verdadeira, mas é pelo menos uma ideia recorrentemente plausível. Que o digam os que têm a angústia dos filhos a criar, ou do tempo de vida a diminuir. É a legião dos submetidos, fonte de recrutamento de todos os revoltados.

27.12.05

A cinética aplicada

Segundo a teoria da mecânica, a energia cinética é a medida do trabalho que é necessário desenvolver para que um corpo passe do estado de repouso ao de movimento: um número infinito seguramente o desta tarde com a carga de sono com que eu estava. Tudo começou com uma sestinha. A partir daí foi o descalabro!

26.12.05

A linguagem numérica

Diz-se de alguém que «possui a geométrica noção dos males e dos remédios, a percepção subtil do ridículo e da impossibilidade». Diz Mário Cláudio sobre Amadeo de Sousa-Cardozo, a quem Almada chamou, na linguagem numérica que é a dos pintores «o substantivo ímpar, 1».

24.12.05

Arestas

Há no «Nítido Nulo» do Vergílio Ferreira aquele momento em que ele fala de um personagem, «um tipo todo em arestas como um teorema de geometria». Mas mais: «um tipo dividido entre a aridez mecânica da política e a banalidade do homem comum». Acabei de ler o livro noutro dia, e voltei hoje a procurar a frase, uma extraordinária frase!

6.12.05

Ilogismo

Há na Fundação Gulbenkian uma pequena biblioteca de arte e nela livros de todas as artes e num deles um estudo amigável que Alberto Gomes escreveu sobre o pensamento de Jesué Pinharanda Gomes. Há nesse folheto, que de tão pequeno ser consegui lê-lo por almoçar depressa, um momento em que se diz que o rigor lógico dos portugueses é o ilogismo do rigor poético, que é a nossa razão intuitiva.